Na Europa, política ruim deixa a economia pior ainda

A crise econômica afeta toda a Europa, mas é mais grave onde a instabilidade dos governos é maior. O escândalo do Caso Bárcenas na Espanha é a prova mais recente.


As autoridades de qualquer país do mundo teriam um imenso desafio se estivessem diante de 26% de taxa de desemprego, 20% da população abaixo da linha da pobreza e quase 400 mil famílias despejadas de suas casas por não ter como pagar as prestações do financiamento. Esta é a Espanha de hoje. Se estivesse focado apenas em resolver esses problemas, o governo espanhol já precisaria fazer muito para ter êxito. Imagine, então, quando esse mesmo governo se afunda em escândalos políticos. O primeiro-ministro Mariano Rajoy, do conservador Partido Popular (PP), não tem feito outra coisa nos últimos dias que refutar as acusações de que o PP montou um grande esquema de recebimento de propina de empreiteiros e outros empresários.
Os jornais espanhóis publicaram papéis que pertenceriam ao ex-tesoureiro do partido Luis Bárcenas, datados de 1990 e 2009, nos quais aparecem nomes da cúpula do PP, entre eles Rajoy, associados a diferentes valores. O hoje premiê, na época apenas com funções internas no partido, teria recebido pagamentos anuais de € 25,2 mil (R$ 67,5 mil). Rajoy afirmou que, “salvo alguma coisa”, toda a denúncia é “absolutamente falsa”. Ninguém sabe o que seria este “alguma coisa”. O Caso Bárcenas, como ficou conhecido, é o assunto único na Espanha e, claro, propostas sobre como contornar a desesperadora situação econômica do país estão em segundo plano.

Não é coincidência a crise ter sido particularmente mais grave nos países onde a política tem sido turbulenta. Na Espanha, o mesmo Partido Socialista que hoje cobra a saída imediata de Rajoy foi alvo do PP quando o premiê anterior, José Luis Rodríguez Zapatero, agonizava em seu fim de mandato com a derrocada financeira espanhola. Favorecimentos a empresários por meio de suborno também eram o cerne de outro escândalo recente envolvendo o PP, chamado Caso Gürtel.
A Itália, que também ainda está longe de se levantar da crise, passou anos sob o governo de um homem, Silvio Berlusconi, cuja ocupação era se defender de processos de todo tipo, de sexo com menores a fraudes e corrupção. Berlusconi saiu e o tecnocrata Mario Monti retomou o foco no combate à crise. A Itália terá eleições no dia 24 e, adivinhem, Berlusconi quer voltar. Sua plataforma é cortar um imposto sobre habitação instituído por Monti ano passado e reembolsar os contribuintes. Será o caminho certo? E a Grécia, o país mais devastado economicamente da União Europeia, convive há tempos com coalizões frágeis e políticos constantemente envolvidos em esquemas fraudulentos. Evidente que não há país do bloco europeu imune a instabilidades de governo. Mas elas são recorrentes nas nações cuja economia vai mais devagar, e a recuperação econômica patina exatamente onde não faltam escândalos políticos.

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Mundo/noticia/2013/02/na-europa-politica-ruim-deixa-economia-pior-ainda.html