Papa argentino assumirá funções na terça e fará 1ª missa na quinta

O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, 76, arcebispo de Buenos Aires, é o primeiro papa latino-americano da história. É também a primeira vez que o cargo é entregue a um membro da Companhia de Jesus, e ele escolheu o nome papal Francisco.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que o novo sumo pontífice telefonou ao papa emérito Bento 16 pouco depois de sua eleição e vai visitá-lo em breve.

Jorge Mario Bergoglio,
foto em 1973
Lombardi disse também que Bergoglio assumirá oficialmente o posto de novo líder da Igreja Católica Romana na terça-feira (19) e fará sua missa papal inaugural na quinta-feira (21), na Capela Sistina.

A cerimônia é feita habitualmente com a presença de chefes de Estado e governo. Apesar do argentino ser conhecido pelo conservadorismo e pela batalha contra o kirchnerismo, a presidente do país, Cristina Kirchner, estará presente na primeira missa de Bergoglio.

O secretário de comunicação pública de Cristina, Alfredo Scoccimarro, assegurou que ela irá ao Vaticano. "Não há dúvida", disse à agência de notícias do país Télam.

1º PRONUNCIAMENTO

Para se tornar o primeiro papa latino-americano, Bergoglio obteve ao menos 77 votos dos 115 cardeais de todo o mundo que participaram desde terça-feira (12) do conclave.

Em seu primeiro pronunciamento, ele disse que os cardeais o encontraram no fim do mundo. "Vocês devem saber que o dever do conclave era dar um bispo para Roma. Parece que os cardeais foram encontrá-lo no fim do mundo. Obrigado pelas boas-vindas".

O novo papa pediu que fizessem uma oração pelo agora papa emérito Bento 16. Depois disse que ia fazer a bênção, mas antes pediu que os fiéis orassem por bênçãos a ele.

Conforme a tradição, o resultado foi anunciado por meio da emissão de uma fumaça artificialmente colorida de branco, pela chaminé da Capela Sistina. Nas eleições anteriores, que terminaram sem um consenso, a fumaça expelida era de coloração preta. O resultado foi confirmado pelo som dos sinos da Basílica de São Pedro.
Em imagem sem data, o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio,
beija a mão do papa João Paulo 2º em cerimônia no Vaticano

No cargo, ele sucede Bento 16, que renunciou em 11 de fevereiro --atitude inédita em quase 600 anos.

Do lado esquerda de Bergoglio durante seu pronunciamento estava o cardeal brasileiro dom Claudio Hummes, 78, ex-arcebispo de São Paulo e atual prefeito emérito da Congregação para o Clero. A aparição de Hummes ao lado do novo papa pode significar, segundo especiulações, que ele deve ter algum cargo no novo papado.

Na Argentina, Bergoglio é conhecido pelo conservadorismo e pela batalha contra o kirchnerismo. O prelado também é reconhecido por ser um intenso defensor da ajuda aos pobres. O argentino costuma apoiar programas sociais e desafiar publicamente políticas de livre mercado.

Embora se mostre preocupado com a população de baixa renda, ele não é adepto da Teologia da Libertação --corrente prestigiada na igreja brasileira que, com base em ideias marxistas, defende que o clero atue prioritariamente servindo os mais pobres.

O conservadorismo do novo papa é conhecido por declarações contra o aborto e a eutanásia. Além disso, embora ressalte que homossexuais merecem respeito, o novo papa é contra o casamento gay.

PERFIL

Bergoglio nasceu na capital argentina e, depois de cursar o seminário no bairro Villa Devoto, entrou para a Companhia de Jesus aos 19 anos, em 1958. Foi ordenado padre pelos jesuítas um ano depois, quando estudava teologia e filosofia na Faculdade de San Miguel.

De 1973 a 1979, ele foi provinciano pela Argentina e, a partir de 1980, reitor da faculdade de San Miguel --cargo que ocupou por seis anos. O papa obteve o título de doutor na Alemanha.

Foi nomeado bispo em 1992 e elevado a arcebispo em 1997, passando a chefiar a arquidiocese de Buenos Aires desde então. O argentino ingressou no Colégio de Cardeais em 2001.

Na Santa Sé, participava de diversos órgãos: era membro da Congregação para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos, da Congregação para o Clero e da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e das Sociedades da Vida Apostólica, além do Conselho Pontifício para a Família e da Comissão Pontifícia para a a América Latina.

Ele era considerado "papável" desde o conclave que elegeu o alemão Bento 16 para suceder o polonês João Paulo 2º, em 2005. Com a renúncia do primeiro, o nome do arcebispo de Buenos Aires voltou a ficar entre os mais cotados ao posto de papa.

Em 2010, quando a modalidade foi permitida pela legislação argentina, o então arcebispo de Buenos Aires --que já disse que a adoção de uma criança por um casal gay é uma forma de discriminação ao jovem-- entrou em confronto com o governo de Cristina Kirchner. A presidente argentina, por sua vez, replicou dizendo que a posição da Igreja evocava a época medieval.

CONCLAVE

Bergoglio foi eleito no segundo dia do conclave, após ao menos três votações. O escrutínio que lhe deu maioria ainda deverá ser confirmado.

Durante o conclave, os cardeais permanecem em absoluto isolamento, impedidos de vazar informações sobre as votações, sob pena de excomunhão. Eles foram vistos pela última vez na terça-feira, quando fizeram uma procissão rumo à Capela Sistina e deram início aos trabalhos.

Neste período, os cardeais ficam hospedados na Casa de Santa Marta, dentro do Vaticano. Lá, os quartos são sorteados, para que ninguém possa escolher seu vizinho, e não há telefone ou internet disponíveis.

Em 2005, o cardeal Joseph Ratzinger foi escolhido como papa em três dias de votação.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1245819-papa-francisco-liga-para-bento-16-e-assume-cargo-na-terca.shtml