464 anos de Salvador

... e D. João III mandou construir uma fortaleza grande e forte
Pedro Álvares Cabral atracou em terras brasileiras em 1500, mas foi somente em 1548 - quase 50 anos após a sua chegada - que o governo português atentou para a situação da Colônia. Até então, a conquista do território não havia sido efetivada e a presença portuguesa, ainda tímida, se restringia à região costeira.


Para impulsionar a colonização, o rei D. João III resolveu criar uma representação da Coroa no Brasil. O sistema serviria, entre outras coisas, para auxiliar as capitanias hereditárias, que enfrentavam dificuldades, e impedir a presença de corsários estrangeiros - principalmente franceses e espanhóis – no Brasil.

“A Coroa decidiu promover uma alteração da política colonial portuguesa, buscando, com a criação da Cidade do Salvador, impulsionar o crescimento, não só da Capitania da Bahia, mas das demais capitanias, cuja delimitação e entrega havia ocorrido cerca de 14 anos antes por todo o território”, explica o historiador e professor do departamento de história da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Dílton Araújo.

Seguindo as ordens do rei D. João III, Thomé de Sousa e cerca de mil homens - entre voluntários, marinheiros, degredados, soldados e sacerdotes - rumaram para as terras além-mar com a missão de fundar a cidade de Salvador, a cabeça da colônia do Brasil. A frota chegou às ordeiras águas do Porto da Barra em 29 de março de 1549, data que posteriormente foi adotada como da Fundação da Cidade, após muitas controvérsias entre historiadores.


O fidalgo chegou à Baía de Todos os Santos com funções definidas. “Teria que ajudar as demais capitanias, além de exercer um papel centralizador no tocante à fiscalização da arrecadação tributária e à aplicação da justiça, assim como à defesa do território colonial ante as ‘hostilidades’ indígenas e aos potenciais invasores estrangeiros”, enumera Araújo.

A sede da administração da Coroa no Brasil deveria ser erguida em local estratégico, já que o Regimento de 1548 determinava a construção de "uma fortaleza e povoação grande e forte". A princípio, o mestre de obras Luís Dias ficou em dúvida entre a parte alta da cidade, onde hoje está localizada a Praça Municipal, e a Península de Itapagipe.

“A península teria validade por ser uma região plana, o que possibilitaria a expansão da cidade. Mas perdia em segurança porque ficava na beira do mar. Já na parte alta, os portugueses teriam uma visão panorâmica da Baía de Todos os Santos. Era a forma de observar quem chegasse na costa e também de se proteger dos inimigos internos”, explica o historiador Marcos Passos Pereira.

Após a escolha do local, o plano de construção da cidade foi posto em prática. Para erguer os prédios da administração portuguesa, como o palácio do Governador e o prédio da Câmara Municipal, foi utilizada a mão-de-obra indígena. Neste sentido, o historiador destaca o auxílio de Diogo Álvares, o Caramuru, náufrago português acolhido pela tribo Tupinambá e que dominava a linguagem indígena.

“Valeu a diplomacia de Caramuru e sua proximidade com os índios. A ajuda foi fundamental para a construção da cidade. Ele serviu como intermediário entre índios e europeus”, afirma. A cidade-fortaleza era protegida por muros no seu entorno e com baluartes de vigilância em lugares estratégicos. Elementos do período medieval, também existentes em cidades portuguesas, foram utilizados na edificação da cabeça da colônia do Brasil, de acordo com Pereira.

“A cidade foi construída ainda com a mentalidade medieval. Como a Europa estava vivendo a transição do período Medieval para a Idade Moderna, os elementos dos dois modos de produção coexistiam”, conta.

Com Thomé de Sousa, Salvador começou a crescer. Além de se tornar sede do governo-geral português na América, a cidade obteve outros avanços. “Salvador se solidificou como centro administrativo e eclesiástico, e transformou-se em um símbolo de prosperidade econômica no decorrer do século XVI. A riqueza advinha dos lucros obtidos com o plantio da cana, da produção do açúcar e da posição privilegiada do porto, transformado-a no principal entreposto comercial entre Portugal e suas colônias do Oriente”, explica a museóloga e mestre em história social pela Ufba, Patrícia Verônica dos Santos.

Os anos de prosperidade seguiram até meados do século XVIII, quando Salvador deixou de ser a sede do governo-geral. A cidade começou a perder sua relevância depois da descoberta da mineração, conta o historiador Marcos Pereira. “Com a economia aurífera, em Minas Gerais e Goiás, Salvador começou a perder a importância”, diz. Assim, a baía de Guanabara passou a ser mais estratégica para os portugueses e a sede do governo-geral foi transferida para o Rio de Janeiro, em 1763.

Fonte: http://www3.atarde.com.br/especiais/aniversario_salvador/historia-imperio.htm