À IMPRENSA, E ÀS PESSOAS DE BEM DA BAHIA:
De segunda-feira, dia 25, pra cá, tenho vivido um calvário
cruel, alvo de uma campanha equivocada e injusta por parte de certos setores da
mídia e nas redes sociais. Parece que, da noite para o dia, “o educador-exemplo
da Bahia”, a “personalidade educacional”, eleita pela comunidade em 2007”, o educador-apresentador premiado em
Milão, na Itália pelo seu trabalho sócio-educativo no programa Aprovado! da
Rede Bahia, o professor que, em ação
voluntária, sempre deu aulas de preparação para o Enem e vestibulares a
estudantes da rede pública, aos sábados, domingos, nas escolas dos bairros
populares,em Ongs, sem cobrar um centavo, virou “Judas”, “mercenário”, para
ficarmos nos menores xingamentos.
O pomo da celeuma: ante a possibilidade concreta de os
alunos do terceiro ano da rede pública( cerca de 140.000 regulares) verem
frustrado o sonho de uma vida inteira com um mau resultado na prova do Enem,
com a greve dos professores já entrando nos 70 dias, o secretário da Educação,
Prof. Oswaldo Barreto, conhecendo meu trabalho, prestígio junto aos estudantes
e larga experiência na área, convidou-me para estruturar 24 turmas na capital e
interior, em caráter de emergência para atendermos, em média 300 alunos por
unidade, com aulas interdisciplinares,
uma transmissão ao vivo pela TVE e posterior postagem no site para que
os alunos pudessem minorar o drama de
terem chegado ao meio do ano totalmente despreparados para esse “vestibular
nacional”.Topei na hora.Aliás, já estava preparado para fazer algo parecido, de
graça, mas com um alcance bem menor.Fizemos um levantamento de custos, onde
estavam incluídos: pagamento de professores dos melhores cursinhos e colégios
da Bahia – se mantivéssemos uma equipe individualizada para cada unidade seriam
, ao todo, 240 mestres; como consegui que alguns dessem aula em mais de uma
turma, reduzimos o universo, mas não o valor final das aulas, é claro;
estrutura de produção com som de qualidade, data-show, produção dos conteúdos,
coordenação em todas as unidades, passagens de avião para deslocamento de
equipes de professores, equipe de produção de campo, produção de conteúdos para
a internet, com postagens de VTs, chat de tira-dúvidas com professores-
monitores à disposição dos alunos com dificuldades, enfim, uma mega-estrutura
para 15 unidades em Salvador e 11 no interior, de Barreiras a Teixeira de
Freitas, durante 4 meses, todas as semanas, até a véspera do Enem. 384 aulões
interdisciplinares, dentro do contrato, e mais uma grande quantidade de aulas
extras e revisões, que não vão entrar no contrato.Valor: R$ 1.600.000,00( um
milhão e seiscentos mil reais, aproximadadamente), algo em torno de R$
4.000,00(quatro mil reais) por aula. Insisto: Contando apenas as 384 do
contrato. Com a possibilidade de o trabalho presencial ser potencializado pela
TV e Internet, chegaremos a algo em torno de 200 mil estudantes baianos da rede
pública, adicionando os regulares, os do EJA e muitos egressos que irão
beneficiar-se do trabalho. Um resultado social e tanto!
Pronto! Publicado no Diário Oficial, no dia seguinte, a
mídia nefasta só enxergou o valor do contrato, e haja sensacionalismo! ; os
professores em greve vociferaram que eu estava “furando” a greve deles, e haja
gritaria! Primeiro: se dividirmos o valor do contrato pelo número de estudantes
beneficiados – direta e indiretamente – o valor ficará irrisório; segundo, os
aulões serão de reforço e preparação para o Enem e vestibulares, dados, na sua
maioria aos sábados, por professores de cursinhos e colégios particulares, que
não pertencem ao quadro da rede
estadual.E, por último, eles terão aulas inesquecíveis, com média de 2
professores por assunto interdisciplinar, os temas requisitados pelo Enem,
coisa que nem muitas escolas particulares estão fazendo.O que nós montamos foi
um pouco do que o mestre Anísio Teixeira chamava de “máquina de fazer
democracia”: ensino de alta qualidade para estudantes negros e pobres da rede
pública.Será que foi isso que, no fundo, assustou algumas pessoas? Aliás, aos
que se apegaram apenas ao valor do contrato, repito o mesmo mestre Anísio
Teixeira: “ as duas atividades humanas que mais requerem investimento são a
guerra e a educação”. A guerra, para destruir; a educação, para construir”.
Reafirmo: não estou contra a greve dos professores! Em meus
livros, artigos, e palestras digo sempre que o professor, no Brasil, deve
ganhar salário de deputado ou ministro do STF! É um princípio basilar da minha luta! Defendo, ainda, ao
lado do senador-educador Cristóvam Buarque, que “todo detentor de cargo
público, no Brasil – de vereador a presidente da república - tenha a obrigação
de matricular seus filhos na rede pública de ensino”.
Quem me acompanha conhece meu pensamento, minha conduta e
meu coração.
Atenciosamente,
Prof. Jorge Portugal. Assim a Bahia me chama.